terça-feira, 29 de março de 2011

Paracetamol e dengue: quando o remédio se transforma em risco


Apesar de não concordar com a abordagem sobre a homeopatia e as considerações feitas no site sobre o assunto, acho interessante a discussão sobre o uso de paracetamol, já que por aqui a dengue é uma realidade cada dia mais palpável.


O uso do paracetamol é recomendado pelo Ministério de Saúde no tratamento dos casos de dengue. Mas será que o que parece consenso está, de fato, certo? Segundo Renan Marino, professor assistente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-FAMERP e professor do Instituto Homeopático François Lamasson, de Ribeirão Preto, a resposta é não. Em entrevista ao Ecomedicina ele explica os riscos do uso do paracetamol em pacientes com dengue e indica qual deve ser, na opinião dele, o tratamento da doença. Confira!

Ecomedicina: O uso do paracetamol é recomendado pelo Ministério de Saúde no tratamento da dengue. Por que esta recomendação?

Renan Marino: O paracetamol foi a única droga recomendada pelo Ministério da Saúde para tratamento dos sintomas da dengue até 2001, quando, em razão do aumento de graves lesões hepáticas em casos de dengue tratados com paracetamol, decidiu-se por acrescentar também a dipirona como opção. Sempre causou muita estranheza a indicação hegemônica por tantos anos do paracetamol na dengue, uma vez que se trata de conduta absolutamente aleatória, sem nenhuma base científica, até mesmo pelo fato de não existir sequer um único estudo no mundo mostrando a viabilidade e segurança desta orientação.

Ecomedicina: Em sua opinião, o medicamento é, de fato, indicado no tratamento da doença? Por quê?

Renan Marino: O paracetamol não pode ser dado a pacientes com dengue por uma razão muito simples: contraria a lógica mais elementar do raciocínio terapêutico administrar uma droga dotada da mais elevada hepatotoxicidade, responsável "número um" e, portanto, maior causa de transplantes de fígado nos USA e na Grã-Bretanha há vários anos, em uma patologia que tem como agente etiológico um flavivírus, cujo hepatotropismo causa importante inflamação hepática em 100% dos casos, como verificamos na ação de todos os quatro sorotipos virais da dengue. Aliás, outros flavivírus também são conhecidos por atacar o fígado, como é o caso do vírus da hepatite C e da febre amarela. Isto nos leva a esclarecer que a dengue é essencialmente uma hepatite viral, o que explica perfeitamente sua sintomatologia, bem como o curso habitual da doença e principalmente suas complicações.

Ecomedicina: Que efeitos o paracetamol pode causar em um organismo saudável e em uma pessoa com dengue? Quais os riscos?

Renan Marino: A diferença do efeito do paracetamol em um indivíduo "normal" ou em um paciente com dengue se deve ao seguinte fato: em pacientes sem lesão hepática a hepatoxicidade do paracetamol é dose-dependente, isto é, acima de 4g diárias, quando é excedida a capacidade de metabolização da droga via sulfatação, glicuronização e sistema do citocromo p-450; já no quadro de dengue a hepatoxicidade não é dose-dependente, uma vez que a depleção da glutationa, como é próprio e característico dos quadros virais, faz com que esta substância produzida em condições normais pelo fígado para tamponar os metabólitos reativos do paracetamol, uma vez inibida e ausente, deixe livre o para-amino benzoquinona-imina, resultante desta cadeia de reações, para fazer uma forte e irreversível ligação covalente com as paredes do hepatócito resultando em extensas áreas de necrose hepática.

Ecomedicina: Estudos indicam que o paracetamol, em grandes quantidades, pode afetar o fígado. Médicos dizem, também, que entre as possíveis complicações da dengue estão alterações hepáticas. Diante disso, a indicação do medicamento não é, portanto, incoerente?

Renan Marino: Do exposto resulta que, na verdade, os quadros atribuídos à "dengue hemorrágica" correspondem à iatrogenia desencadeada pelo uso do paracetamol nestas condições descritas, podendo ser perfeitamente controlados e evitados.

Ecomedicina: O emprego deste fármaco tem relação com a elevação da mortalidade em consequência da doença? Por quê?

Renan Marino: Não procede, diante das observações clínicas que temos acompanhado ao longo dos últimos dez anos, a famigerada teoria sequencial de Halstead, segundo a qual os casos graves e hemorrágicos ocorreriam em indivíduos com histórico anterior de dengue por um dos quatro sorotipos que, ao contrair a doença novamente, teriam risco elevado para complicações em decorrência da liberação de aminas vasoativas pelos monócitos previamente infectados por outro sorotipo, cujas reações em cascata levariam a graves alterações circulatórias e da coagulação. O que faz a diferença na dengue é tão-somente tomar ou não tomar paracetamol. Nada mais. Como orientação geral: ingerir grandes quantidades de líquidos para garantir a hidratação, repouso, alimentação leve e apenas dipirona para ajudar no controle da febre e dores.

Ecomedicina: Qual, em sua opinião, deveria ser a conduta adotada com pacientes com dengue? Como pode ser controlada a febre e amenizada as dores decorrentes da infecção?

Renan Marino: No seguimento da doença recomendamos hemograma completo, para monitorar os níveis de neutrófilos e contagem de plaquetas, bem como de ALT (TGP) e AST (TGO). O paciente somente se restabelece para voltar às suas atividades normais quando as transaminases caem abaixo de 100 UI, o que na minha opinião deve ser o critério de alta para o doente.

Fonte: Site Ecomedicina - www.ecomedicina.com.br

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